domingo, 26 de abril de 2020

A paz do Senhor em tempos difíceis





A paz do Senhor! 


Acredito que a melhor forma de iniciar uma conversa é com o desejo de que o outro tenha a paz que excede todo o entendimento. A saudação shalom, paz em hebraico, é recheada de desejos pelo bem estar completo do ouvinte (prosperidade, saúde, bênçãos, relacionamentos harmoniosos). A expressão grega eirene, usada no NT, tem um sentido mais espiritual pois está ligada ao Senhor Jesus. O apóstolo Paulo escreve que essa paz guarda os corações e os pensamentos, Filipenses 4.4-7 NVI:
Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: alegrem-se! Seja a amabilidade de vocês conhecida por todos. Perto está o Senhor! Não nadem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus. E a paz de cristo, que excede todo o entendimento, guardará os seus corações e as suas mentes em Cristo Jesus.
 
Cultivar alegria no Senhor, ser amável com os outros, ter paciência e apresentar a Deus as necessidades, gera em nós a paz perfeita que vem do Senhor. Essa paz não é uma sensação (algo volátil, que evapora) porque a fé no Senhor cristaliza a paz para os filhos de Deus. Não é momentânea, passageira. É incondicional, pois não depende de circunstâncias, das condições que cercam a pessoa. A paz do Senhor é real, não atua como uma anestesia que ilude sobre a seriedade da situação presente. A paz do Senhor se dá na consciência, na razão. Não é como a ignorância de quem desconhece a conjuntura. Também não consiste na negação de quem finge que nada acontece, como se a pessoa vivesse numa realidade alternativa, que não sofre as consequências do tempo real. A paz é como um fruto que se colhe na vivência cristã, Gálatas 5.22, a partir do cultivo, Efésios 4.3 e Tiago 3.18.  

Paz é característica dos filhos de Deus, disse Jesus no sermão do monte, Mateus 5.9. Noutra ocasião, Jesus instruía seus discípulos que visitariam aldeias para levar as boas notícias do Reino de Deus. Recomendou que cumprimentassem as pessoas com a paz (desejos de bem estar completo), Mateus 10.12. Afinal, eles estavam levando boas notícias: a paz espiritual que se recebe pela redenção era agora realidade para todos. E como é agradável receber aqueles que proclamam a paz e anunciam as boas notícias da salvação!, Isaías 52.7. 

Contraditoriamente, é comum que as pessoas foquem o lado ruim das coisas. Essa atitude abate, desmotiva, revolta. Prova disso são as notícias preocupantes sobre a pandemia do novo coronavírus que surpreendeu o mundo nesse ano de 2020. Entramos num período de incertezas e aflição. A sociedade ficou agitada com perdas de vidas pela doença e as implicações socioeconômicas disso tudo. A vida mudou. Em consequência, planos foram adiados, alguns cancelados. Se acumulam inquietações. 

A quarentena é uma estratégia para diminuir a propagação de doenças. É um período de isolamento que garante que um ser vivo ou ambiente está livre da contaminação por germes (ou pelo menos mais seguro). Antigamente esse ciclo durava 40 dias. Hoje, o termo representa o tempo de espera (variável, de acordo com o micro organismo temido). A recomendação de  quarentena tem propósito de evitar um grande número de afetados simultâneos. Durante a espera há uma aparente calmaria. Abaixo da superfície os temores agitam, sufocam. Os acontecimentos presentes são inéditos para nós. Ficamos chateados, perturbados, revoltados, às vezes temerosos. 
Sabemos, no entanto, que a ansiedade não pode reverter nenhum quadro. O único remédio é justamente o oposto, se aquietar e lembrar que o Senhor Deus é uma torre segura e presente, Salmo, 46.10 e 11. O Senhor, nosso pastor, nos conduz através de águas tranquilas. Se elas se agitarem, Ele tem poder para aquietá-las. É preciso reconhecer que Deus está no controle. Ou não está? Ele deixou de ser onisciente e onipotente? Não, Ele é o mesmo, Ele não muda! Malaquias 3.6. A paz de Cristo nos envolve a ponto de ficarmos perplexos, mas não desesperados, abatidos mas não destruídos, II Coríntios 4.8 e 9. 

Observamos que, na Bíblia, o contexto em que alguns números ocorrem indica uma situação típica. O numeral 40, é um exemplo. Ele aparece em referências ligadas a um cenário de provação, tentação, aflição, expectativa. Alguns exemplos: 
- Foram 40 dias e noites de chuva durante o dilúvio;
- Durou 40 anos a peregrinação dos israelitas no deserto;
- Por 40 dias após a ressurreição, Jesus preparou seus discípulos para sua ascensão, enquanto isso, eles esperavam o Consolador prometido.
Para mim, mais impressionante sobre esse número, é o exemplo de Jesus. Voluntariamente se colocou em isolamento social por um período. Passou uma quarentena no deserto! O que Ele fez nesse tempo? A resposta está em Mateus 4.1-11 e Lucas 4.1-13: Ele usou esse tempo para jejuar e orar.
Dias antes, pediu a João Batista que o batizasse. O pregador achou desnecessário, afinal Jesus não tinha pecados para se arrepender e o batismo representa a purificação da carne e da consciência. Mas Jesus respondeu: “deixa assim para que se cumpra toda a justiça”, Mateus 3.15. Nos deixou o exemplo: seguiu todas as prescrições. Jesus estava para iniciar seu ministério. Fez tudo conforme a lei. Encerrado o período da quarentena, começou a pregar o arrependimento dizendo que o reino de Deus havia chegado. No livro de Lucas 4, versículos 17 e 18, ele vai à sinagoga, pega o rolo com a profecias de Isaías e lê o capítulo 61: o Espírito do Senhor me ungiu para pregar as boas novas e curar aos quebrantados de coração, proclamar libertação aos cativos. Ordeiro, cumpridor das leis, Jesus não tropeçou em nada, por isso Ele manteve o curso de sua missão, mesmo quando a situação era humanamente desfavorável.


Igualmente, podemos imaginar os motivos de Deus para nos por nesse estado de espera. E ao invés de ficarmos sentido tolhidos, prisioneiros, podemos nos comparar com o Senhor e aproveitar para orar, jejuar, testar e ampliar nossos conhecimentos bíblicos. Não é sensato estarmos ansiosos por coisa alguma, antes tornemos conhecidas do pai nossas preocupações. E façamos orações por todos os homens e governantes, como dizem as Escrituras, I Timóteo 2.1 e 2. Por que teríamos pressa para sairmos desse "retiro espiritual"? Para recuperar o tempo perdido? Para minimizar as perdas financeiras, para dar continuidade aos projetos, ou porque queremos matar a vontade de fazer aquilo que temos sido privados?
No tempo que Jesus passou em quarentena, o diabo o tentou. Três tentações foram descritas: oferta de pão, incitação a pular de lugar alto e convite à adoração inapropriada em troca de riquezas. Nosso Senhor rejeitou a todas. Não foi rebelde para trocar a aprendizagem daquela quarentena por prazeres. No tempo presente, em confinamento, muitos tem expressado 3 vontades semelhantes: 
1) Comida (fome ou desejos por algo que apetecem); 
2) Passeios, convívio social, curtição, aventuras;
3) Anseios por bens/coisas sem as quais não conseguimos viver (serão ídolos?).  
Por acaso esses são os objetivos da vida: cumprir os desejos íntimos? Abstinência nos tira a paz? Se somos cristãos e pensamos que a resposta para as perguntas acima seja 'sim', algo está errado. E quanto ao Reino de Deus e sua justiça, sentimos o vazio na obra de Deus? Estamos prontos a sair para pregar o evangelho, assistir os necessitados e libertar encarcerados? Tomara que algo novo, uma nova perspectiva nos conduza a uma nova atitude. Que a gratidão, mais disposição, ousadia e zelo nos acompanhem na vida pós-quarentena. 

É curioso que o Salmo 40 seja conhecido como um "convite à paciência". Segundo o salmista, no tempo que Deus quis, Ele o deixou livre. Esse texto bem pode ser chamado de "o salmo da 40tena". Por fim, podemos brincar que o ano de 2020 é mesmo o ano da quarentena, afinal, 20 + 20 = 40!

Brincadeiras à parte, Jesus deixou um exemplo. E nós que somos seus discípulos, fomos enviados para pregar as boas novas e levar a paz do Senhor aos corações. Que saíamos do confinamento em nosso cenáculo, cheios do Espírito Santo pregando o arrependimento e o perdão de Deus como os discípulos em Atos 2.
Nossa missão é anunciar aquele que é Jeová Shalom, Teos tes Eirenes, Deus de Paz! 
E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.

Filipenses 4:7

Esse post é embalado ao som da canção Paz no Vale, na voz do Gunnar Camargo. Autor do vídeo: Jair Barreto
 

Bíblias consultadas:
Bíblia de Estudo Arqueológica  Ed. Vida
Bíblia Online
Novo Testamento Interlinear Grego-Português SBB 

*Atualização: em 03/05/2020 encontrei o artigo 'Dubrovnik, a cidade medieval planejada para a quarentena'. Leitura interessante. Para mais informações sobre o tema:


2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo espaço e conteúdo!
Só o q precisamos é da Paz q excede todo entendimento!

Unknown disse...

Texto maravilhoso 👏👏 Deus te abençoe cada vez mais Cíntia 🙌